segunda-feira, 18 de outubro de 2010

IsmaelNery e Murilo Mendes: reflexos

Ismael Nery & Murilo Mendes: reflexos é um álbum de arte, retrato da amizade entre os dois artistas, produto da pesquisa de Leila Maria Fonseca Barbosa e Marisa Timponi Pereira Rodrigues, primeira obra publicada pelo Museu de Arte Murilo Mendes da Universidade Federal de Juiz de Fora. Foram convidados estudiosos de Murilo e Ismael para também comporem o livro com artigos: Angela Correa, Bernardo Brandão e Paulo Geyerhahn. O poeta Murilo Mendes apresenta-se como crítico de arte nos textos que compõem o livro, pois os quadros de Nery são abordados tanto quanto a personalidade do pintor e sua poesia. É, pois, proposta do álbum apresentar toda a referência a Ismael Nery, coletada na obra de Murilo Mendes, quer em seus livros de crítica, quer em revistas e jornais e em seus poemas, assim como a produção ismaelina a respeito de Murilo Mendes. Dessa forma, como um porta-voz, Murilo mostra Ismael Nery como um “Ente magnético”, na medida em que registra as teorias estéticas, a visão de mundo, a exuberância intelectual de Nery, múltiplo ente: poeta, filósofo, pintor, desenhista, arquiteto, dançarino e teólogo.

ONDE ENCONTRAR: O livro será distribuído pelas maiores livrarias do Brasil; em Juiz de Fora, pela Livraria Liberdade e Terceira Margem, além de poder ser adquirido no MAMM ou pelo telefone 3214 1854. Custo: R$ 98,00.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

POSSE NA ACADEMIA JUIZ-FORANA DE LETRAS

   No último domingo, dia 26 de setembro, tomei posse da cadeira no. 27 da Academia Juiz-forana de   Letras. A mesa foi composta pelo presidente Dr. Kleber Halfeld, a vice-presidente Creuza Cavalcanti e Cecy Barbosa, por quem fui saudada. Seguem as fotos do evento.

 

Composição da mesa da esquerda para a direita: acadêmica Marisa Timponi, Cecy Barbosa, Pres. Dr. Kleber Halfeld e Vice-Presidente Creusa Cavalcanti

Entrega do título de acadêmica

Apresentação de Marisa Timponi da apologia de Cléa Gervason Halfeld


Marisa repassa o título para os filhos Juliana, João Daniel e Raquel.

José Carlos e Leila Barbosa, Marisa e Eloir Dutra



Marisa e Leila







 


terça-feira, 21 de setembro de 2010

SOBRE A PESQUISA DA HISTÓRIA LITERARIA

           O Projeto de Pesquisa História Literária de Juiz de Fora, que se propõe a estudar a produção literária de Juiz de Fora desde sua fundação em 1850 até os dias de hoje, é uma proposta antiga nossa. Primeiramente, pelo interesse que sempre tivemos pela cultura de Juiz de Fora, especialmente em seu aspecto literário, seja como promotoras culturais, seja como conferencistas, juradas em concursos literários, carnavalescos, de premiação de títulos honoríficos, seja como consultoras para a elaboração de vídeos, filmes, peças de teatro, exposições, livros, seja como produtoras de ensaios, artigos, críticas e outras obras e seja na observação cotidiana, enquanto estudiosas e professoras de disciplinas que tratam do assunto nos cursos de Letras e de Comunicação Social.
            Em segundo lugar, pela necessidade de se resgatar e preservar a memória da literatura de Juiz de Fora, cujas obras, além de pouco conhecidas, estão ameaçadas de dispersão e de extinção, constituindo-nos, portanto, como canais receptores da produção local.
O Projeto, aprovado pelo Departamento de Letras e pelo Conselho de Pesquisa e Extensão (CEPE) - Universidade Federal de Juiz de Fora, Resolução nº. 23/81, propõe-se a produzir um trabalho acuradamente científico de recuperação e caracterização dos textos literários de autores juizforanos, assim como a difundir os resultados.
O levantamento, tanto quanto possível completo, das obras dos autores juizforanos e o estudo ecdótico (comparativo) de obras inéditas e de edições esgotadas, ainda o estudo das fotografias antigas e desenhos e pinturas da cidade para ilustrarem as memórias de escritores de Juiz de Fora, pode ser considerado como uma forma de participação ativa e eficaz de nosso trabalho na comunidade, na medida em que levará à população o conhecimento de suas raízes culturais.
            A pesquisa tem sido realizada em parceria com a Prefeitura de Juiz de Fora, através da Funalfa (Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage). Por meio dessa parceria, várias frentes do projeto já foram realizadas, tais como as publicações dos livros A trama poética de Murilo Mendes e Letras da cidade.
O livro A Trama Poética de Murilo Mendes, publicado em 2000 pela Editora Nova Aguilar/Lacerda - RJ, revelando o múltiplo universo muriliano, transborda em variadas leituras de estudiosos, pesquisadores, poetas e críticos no Brasil e no exterior. Acrescenta novas análises em direção das memórias; dos neologismos, estilização e relação com a literatura de outros autores; da malandragem, pelo traçado popular do poeta; da religiosidade que perpassa toda sua obras; da interface, que media a relação estabelecida entre a literatura e as artes plástica nas trilhas da palavra libertária.
Letras da cidade, publicado pela Funalfa Edições, em 2002, resulta da pesquisa iniciada há aproximadamente 20 anos e consiste em uma história da literatura de Juiz de Fora, por um recorte do olhar dos escritores da cidade, ou nela radicados. São fragmentos de textos ou textos completos e vários inéditos, que recuperam Juiz de Fora, desde sua fundação até hoje, permitindo acompanhar seu crescimento, seu progresso, com toda a carga de mudanças que foram despersonalizando-a, globalizando-a. O resgate de uma cidade originária, em um processo identitário, permite que se escavem as raízes em busca de um eixo que possa orientar seu futuro, ao mesmo tempo em que rastreia um paradigma de cidade, enquanto um locus generalis.
Ambos os livros tiveram como capista a artista plástica Valéria Faria, sendo que o primeiro contém reproduções de obras de arte pertencentes ao acervo do Centro de Estudos Murilo Mendes da UFJF e o segundo é ilustrado pelos artistas Dnar Rocha, Pedro Nava, Fani Bracher, Guima, Rogério de Deus e Stheling.
         Pretendemos continuar a trabalhar neste projeto, pois acreditamos ser nosso interesse pela cultura de Juiz de Fora sempre crescente e constituir referência para as publicações posteriores. Esperamos receber contribuições para que ele se complete e se avolume, atendendo seus objetivos de resgate e abrangência do perfil literário da cidade.  (As autoras)

O NASCIMENTO DA PESQUISA SOBRE MACHADO SOBRINHO

É importante registrar que Juiz de Fora, desde o final do século XIX, concomitante à criação da Academia Brasileira de Letras, já se preparava para reunir seus literatos.
                        A Confraria Literária Mineira foi precursora, e dela saíram alguns dos membros fundadores da Academia Mineira de Letras que, criada em 25 de dezembro de 1909, em Juiz de Fora, comemora neste ano seu centenário. Por esse motivo, a Academia Juiz-forana de Letras, por intermédio de duas de suas pesquisadoras, publica este livro-registro. a partir do álbum de recortes de jornais, coletados pelo idealizador e primeiro secretário da entidade, o educador e escritor Machado Sobrinho.
            A pesquisa nasceu no âmbito da amizade e da família, por ter chegado às mãos das professoras e acadêmicas Leila Barbosa e Marisa Timponi o acervo do professor Machado Sobrinho. Guardado inicialmente por seu filho, Luiz Gonzaga Machado Sobrinho e após por sua neta, Heloísa Machado Sobrinho, que o recebeu como legado cultural e familiar, tendo dedicado-lhe preciosos cuidados de preservação, chegou, com seu falecimento, às mãos de seu outro neto, José Carlos de Castro Barbosa, marido da pesquisadora Leila Barbosa. O  álbum encontrava-se em meio a manuscritos de livros e poemas. Consiste em um caderno de atas, contendo recortes dos jornais que datam desde a época que antecedeu a criação da AML (setembro de 1909), sua permanência em Juiz de Fora até a transferência para Belo Horizonte, em 1914[1].
            É, pois, um trabalho de resgate e registro de datas significativas, de grandes acontecimentos artístico-culturais de Juiz de Fora, como o livro lançado pelas autoras em 2006, comemorando o centenário do monumento do Cristo Redentor.
            O historiador e cronista Paulino de Oliveira liga a criação da Academia Mineira de Letras ao centenário de Alexandre Herculano, uma vez que, dias depois da sessão solene (13 de maio de 1910) com que se festejou na cidade aquele acontecimento, sessão à qual compareceram os acadêmicos fundadores, eles propuseram à Câmara Municipal a mudança do nome de um trecho da rua Batista de Oliveira, para o do imortal escritor:

O prestígio da Academia, que tinha como Presidente de ''Honra” Augusto de Lima, cresceu tanto em tão pouco tempo, graças ao escrúpulo com que se escolheram seus primeiros membros - escrúpulo que ainda hoje se observa, ao contrário de outras instituições do mesmo gênero existentes no País - que quatro anos depois a capital do Estado pleiteou e conseguiu sua transferência para ali, onde residia a maioria de seus componentes[2].

            Machado Sobrinho foi quem lançou o alicerce para a fundação e instalação da Academia, sendo pois a alma de tão brilhante sodalício e cuja ação foi a princípio combatida, senão ridicularizada, especialmente por alguns apressados que não conseguiram penetrar no seio dessa sociedade nova, mas que já nasceu seleta. Por ocasião de sua instalação, as dificuldades financeiras da Academia levaram Machado Sobrinho a redigir um requerimento, solicitando ajuda à Câmara Municipal.
            Juiz de Fora, naquela época, possuía grande desenvolvimento e suas muitas indústrias e seu estilo arquitetônico motivaram-lhe o epíteto de ¨Manchester Mineira¨. A cidade adotara conceitos urbanísticos e de higiene vigentes na Europa, a respeito não só do planejamento quanto do saneamento urbanos, o que levou Sílvio Romero a denominá-la, não sem um lastro irônico, de ¨Europa dos Pobres¨. Rui Barbosa, porém, preferiu nomeá-la “Barcelona Mineira” e Artur Azevedo “Atenas Mineira”, levando em consideração o desenvolvimento cultural representado por numerosos e importantes colégios, pelos inúmeros jornais editados desde 1870, e pela Confraria Literária Mineira, fundada em 1886, o que a colocava como a primeira de Minas. Ao invés dos sinos mineiros chamando os católicos para as igrejas, o que se ouvia eram os apitos das progressistas fábricas, convocando a população para o trabalho, brilhantemente retratado por Lindolpho Gomes no hino da cidade:
                                  
                                   Das cidades brasileiras,
                                   Sendo a mais industrial,
                                   Na cultura e no trabalho,
                                   Não receia outra rival!
           
            Este livro possui caráter documental que será respeitado pelas autoras-organizadoras, com pequenas modificações como a colocação dos artigos e notas dos recortes de jornais em ordem cronológica e a transcrição dos textos para a ortografia atual, permanecendo os nomes próprios e os trabalhos de Lindolpho Gomes propositivos de uma reforma ortográfica na forma original. Ainda foram retirados os textos repetidos, com referências no rodapé.
            Cumpre-se, portanto, o objetivo de trazer a público a história da fundação da Academia Mineira de Letras, seu período inicial, constituindo-se em mais uma iniciativa pioneira da cidade que é “o primeiro sorriso de Minas Gerais”[3].
O que se almeja ainda com este livro é ter cumprido o papel de preservação de um bem cultural das Gerais que, aliado à produção e à divulgação, vem recuperar a história dos escritores que compuseram o primeiro quadro dos acadêmicos, membros perpétuos da Academia, sua biografia e sua importância no cenário das letras; analisar as obras mais significativas dos acadêmicos para a contextualização histórico-literária da Academia Mineira de Letras.



[1] Tal acontecimento assemelha-se ao vivenciado por nosso ex-presidente Itamar Franco, pois, quando de sua permanência em Roma como embaixador do Brasil, encontrou documentos relativos à Academia Brasileira de Letras, que foram reintegrados ao acervo do Brasil. 
[2] OLIVEIRA, Paulino. História de Juiz de Fora. Juiz de Fora, MG: Companhia Dias Cardoso, 1953. p. 195.
[3] BANDEIRA, Manuel.  Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986. p. 137-8.

MACHADO SOBRINHO: NOTÍCIAS DA IMPRENSA SOBRE A ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS

Em comemoração ao centenário de fundação da Academia Mineira de Letras, está sendo lançado um livro patrocinado pelo Fundo Estadual de Cultura (FEC) da Secretaria de Cultura de Minas Gerais (SEC), financiado pelo Banco de Desenvolvimeno de Minas Gerais (BDMG).      
O livro de caráter documental contém recortes de jornais da época, coletados e anotados pelo Secretário Geral da Academia Mineira de Letras, o educador e poeta Machado Sobrinho. Vem precedido do prefácio de Murilo Badaró, atual presidente da Academia Mineira de Letras, da apresentação de Kleber Halfeld, presidente da Academia Juiz-Forana de Letras e do texto crítico, biobibliográfico, elaborado pelas organizadoras, pesquisadoras da História Literária de Juiz de Fora, Leila Barbosa e Marisa Timponi. 
            A Academia Mineira de Letras foi criada em 25 de dezembro de 1909 na cidade de Juiz de Fora e ali permaneceu até 1915, quando foi transferida para Belo Horizonte.
            O documento original foi conservado pelo filho de Machado Sobrinho, Luiz Gonzaga Machado Sobrinho e posteriormente por sua neta, Heloísa Machado Sobrinho e, hoje, está na posse de seu outro neto, José Carlos de Castro Barbosa, marido da pesquisadora Leila Barbosa.
Aproveitando a data comemorativa e continuando um trabalho de resgate e registro dos grandes acontecimentos artístico-culturais de Juiz de Fora, as pesquisadoras Leila Barbosa e Marisa Timponi, por meio da Academia Juiz-Forana de Letras, como já o fizeram com o livro lançado, em 2006, comemorando o centenário do monumento do Cristo Redentor, publicam Machado Sobrinho: notícias da imprensa sobre a Academia Mineira de Letras, editado pela Funalfa. 

A LITERATURA DE JUIZ DE FORA E ALGUNS DE SEUS EMBLEMAS

A VOCAÇÃO DE JUIZ DE FORA
"Fazenda do Juiz de Fora no século XVIII, Vila do Santo Antônio do Paraibuna em 1850, Cidade do Paraibuna em 1856, a localidade voltou a ter a primitiva denominação em 1865, quando o art. 13 da lei provincial 13, de 19 de dezembro, determinou: ‘A Cidade do Paraibuna denominar-se-á Cidade do Juiz de Fora‘”. (cf. Paulino de Oliveira, História de Juiz de Fora. Juiz de Fora: Companhia Dias Cardoso, 1953, p.63). 

Juiz de Fora é uma cidade culta. O poeta Murilo Mendes dizia que era uma ilha cercada de pianos por todos os lados, referindo-se à musicalidade de Juiz de Fora nos princípios do Século XX. Como se vê, já naquela época eram mostrados seus dotes culturais musicais. Mas não era somente na música que era exposta sua cultura. Havia produção de qualidade nas artes plásticas, na poesia e na literatura, que foi multiplicada através das décadas futuras. Se você gostou deste livro, que é apenas um aperitivo, procure ter intimidade com as obras dos escritores locais. Certamente vai se surpreender com a pujança dos textos saídos das mentes férteis de nossos escribas. (Maurício Hugo Gama de Menezes)
LITERATURA DE JF EM BUSCA DE IDENTIDADE
MORRO DO CRISTO - NOSSO CRISTO REDENTOR
Ó Cristo Redentor! Que a Tua mão
Eternamente para os céus alçada
Seja o guia seguro na jornada
Que levamos buscando a salvação.
Ó Cristo Redentor! Porque este plinto
Em que os homens puseram-Te em pé,
Se eu, amado de sincera fé,
No fundo de minh'alma é que sinto?!
(Belmiro Braga)
  
- Céu baixo riscado por chaminés
a cidade ajoelhada olha o Morro do Cristo
Ouve os apitos das fábricas
L O N G A M E N T E
e fica pensando
que foi escrita por Dostoievsky.
(Edmundo Lys)

Monólogo da Princesa de Minas
Eu vim das selvas! No Caminho Novo,
armei a grande tenda do meu povo
que se espalhou por amplos horizontes,
crescendo com energia extraordinária,
nos vales e rochas, nos plainos e montes.
Sou Juiz de Fora, - a urbe centenária!
Andando em busca do que é santo e puro,
neste caminho glorificador,
venho de antanho e vou para o futuro,
sob as bênçãos do Cristo Redentor.
(Geralda Ferreira Marques Armond)

Do alto do "Cristo" eu a diviso, com seus arranha-céus, que parecem nivelar-se às colinas e a sintetizo em minha retina e a embalo no arrelvado do meu coração. Que seu “aplomb” metropolitano nunca lhe tolde o comedimento montanhês. Contemplando-a, avalio a operosidade de sua gente, rememoro-lhe a nobreza da tradição e confesso: " Amo-a, mercê da expressão de seus artistas, da vibração de seu universo cultural, do seu afã fabril, do contributo de suas forças vivas, enfim, do diversificado pulsar que a faz progredir". (Creusa Cavalcanti França - Diário Regional)

Nos apertados olhos das montanhas
os meus os guardei de pecadora
adolescente. E parti... Na lembrança
o rumor das águas pardacentas. A poesia:
asa de borboleta, rubra pétala de papoula em manhãs
cinzentas. A poesia.
(Na voz castanha do Paraibuna
saudava Murilo Mendes os rios todos
do mundo). Sobrevoei
o morro do Imperador com seu pequeno Cristo
Redentor.
Além dos morros, um mundo (...)    
(Maria Thereza Noronha)

Menino louro
Azul de olhos
Bambu fino na mão
Batuta de mestre
Desperta as mulas
Continuando a missão
Do passeio
A voz fina da meninada inflamada
Mistura-se ao barulho
Lento dos cascos
Alemão cascudo
Carrapato, barrigudo
Alemão cascudo
Carrapato, barrigudo
A mulher e o menino
Olhares fixos
No Cristo Redentor
Sobem para São Pedro. (Paulo de Tarso Andrade)

o passo domado do paraibuna, a rua halfeld, o morro do imperador, o molde grave dos casarões do bairro granbery, o tanque de guerra que ainda sitiava, na praça deserta, o cadáver cujo nome recusamos. cujo nome era nume e número: 1964. (Iacyr A.de Freitas)
HALFELD: RUA CON-VER-GENTE
Sim, porque quantos e quantos marmanjos tenho eu visto pela manhã arrastando misérias, pingando mulambos, completamente aleijados, rostos cadavéricos, implorando à caridade; e de tarde, bem aprumados, passeando pela nossa Ouvidor, que é a nossa rua Halfeld!! (...) Tem a nossa Princesa, portanto, tudo quanto têm as grandes cidades. Viva o progresso.
                                                                                   (Antônio Bernardes Fraga)
Certa noite, na rua Halfeld, soldados ébrios descarregaram os fuzis a esmo, numa desordem, e o povo debandou por todos os lados, esvaziando a via pública em menos de trinta segundos.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           (Gilberto de Alencar)
Escrevo sobre a rua Halfeld sem situá-la no espaço, ocupando-me somente com as pessoas que a percorrem. Nada a fazer: assim sou eu, ponho sempre em primeiro lugar as pessoas. Direi entretanto que a rua Halfeld é uma reta muito comprida, começando às margens do Paraibuna e terminando na Academia de Comércio. Nos dois lados levantam-se casas, sobressaindo, pelo menos no meu tempo de menino, a Livraria Editora Dias Cardoso, uma das minhas delícias de então; e a Casa da América, sortida com uma infinidade de objetos e instrumentos de toda a espécie; delícia e terror, pois entre eles torqueses, serrotes, martelos, tenazes, tesouras, alicates.
                                                                                                       (Murilo Mendes)
Rua Halfeld
Conheço mais afamadas: Ouvidor, Imperatriz. Já vi mais bonitas: Paissandu, Senador Paula. Outras são mais extensas: Rio de Janeiro, Senador Pompeu. A outras quero mais: Dona Cândida, Comendador Rocha. Nenhuma, porém, mais singular que esta ruazinha pequena, estreita edesnivelada, que se reclina, confortavelmente, sobre esse monumental travesseiro de veludo chamalotado – o Morro do Imperador, passa se espreguiçando pelo centro da cidade, dando aqui acolá, pulos sobre si mesma, para mais adiante banhar-se tranqüila nas águas do Paraibuna. Rua que tem uma doce filosofia, rua onde cada um se sente como se fora a própria casa. A rua do “Salvaterra”, o bar onde a gente passa uma tarde sentado, o garçom se aproxima, um pede “Sombra e água fresca!” – o outro: “Me deixe em paz!” – e ele vira as costas sorrindo e, se a gente resolve no fim tomar um “chopp” ainda se tem o direito de reclamar por ser 50 centavos a mais que no botequim do bairro. A rua da Velha Celeste (eu hein?!...) alta, magra, ora simpática, alisando a gente, ora com horrendos esgares, praguejando, chorando, inofensiva sempre. A rua da Maria, a doidinha de braços cruzados que conhece a todos por um nomezinho e sempre tem o que falar. A rua onde Peneirão gostava de mostrar suas condecorações... A rua onde o Jambica exibia seu peso, distribuía sua simpatia.
                                                                                   (João Dias Ibiapina)
Poema a Juiz de Fora
Juiz de Fora do “Piriá”,
Machado velho sobre o ombro
Magricelo,
Ameaçando a molecada irreverente.
Juiz de Fora de “footing”
Na rua Halfeld,
Venenos políticos
Vendidos no cafezinho
Santa Helena,
De maledicências
Nascidas nas mesas
De ferro do Salvaterra.
                                (Dormevilly Nóbrega)
Mas esses mesmos incansáveis obreiros arranjam seu tempinho para o futebol, a novela de rádio, a sinuca, a reunião soçaite ou bate-papo na rua Halfeld. Nada tenho contra essas atividades, algumas
muito salutares e edificantes, outras nem tanto, mas todas muito normais, eu mesmo pratico essas coisas, como toda a gente.                                                                            
                                                                                              (José Carlos de Lery Guimarães)
Toma-se por exemplo a Rua Halfeld, a artéria principal. Realmente é inigualável dado que converge as atenções, os negócios, é o ponto de visita da cidade. Porém a sina, ou saga, a divide em partes, parte alta e baixa. Como que predestinada, a parte baixa é relegada à absoluta fealdade e ao descaso. Nada prospera aí, indo desembocar em uma triste Estação onde o próprio tempo descarrilha
                                                                                                    (Roberto Mendes Gróia)
não volto mais pra catar conchas
onde não há mar.
desembarco meu verso bem ali
na esquina da Halfeld
com Rio Branco
          - e vou catando gente
nas areias do calçadão.
                                                                            (Márcia Carrano)
 Rua Halfeld
 Juiz de Fora é assim, muito mulher.
 Menina-moça nas tardes ensolaradas da Halfeld.
 A vó e tia nas janelas de onde se vê o tempo passar,
 Vazia e triste nos domingos à tarde, quase noite. (Luiz Carlos Correard Ferreira)
PEGANDO O BONDE
"Veja, ilustre passageiro,
O belo tipo faceiro
Que o senhor tem ao seu lado...
E, no entanto, acredite
Quase morreu de bronquite
Salvou-o o Rum Creosotado"...
Amava também o bonde, o seu trajeto, curtíssimo, na época me parecia enorme. Costumava vagar nele pela cidade. Passava em frente ao Museu Mariano Procópio. Essa casa, graças a Deus, conservaram.     (Rachel Jardim)

Nasci nesta Juiz de Fora
das fábricas e cultura.
Feliz de quem aqui mora
vivendo tanta ventura!

Teus bondinhos, Juiz de Fora,
não me saem da lembrança.
Descendo Avenida afora
iam cheios de esperança 
(Vera Maria de Lima Bastos)
No dia 15 de novembro de 1881, Juiz de Fora já possuía os seus bondes. Melhoramento que nem mesmo Ouro Preto, a Capital da Província, podia se orgulhar de ter. Também, pudera, lá, subindo e descendo montanhas, só mesmo cabrito os puxando.
                                                                                                       (Renato Mattosinhos)                                                    
Encerrada a festa de entrega do disco, um outro momento começava, já agora com um misto de alegria e tristeza. O último bonde de Juiz de Fora ia ser definitivamente recolhido às oficinas da Prefeitura, no Alto dos Passos. No ponto central da Rua Direita, de frente para o Restaurante Rio Lima: - lá estava o velho e querido bonde, pronto para sua última viagem! Na mesma direção, do outro lado da Rua Direita, com portas de madeira vai-e-vem, bem ao estilo dos "saloons de far-west", ficava outro bar e restaurante de primeira linha, com um vistoso "Gato Preto" em sua placa de identificação. (...) os fregueses do Gato Preto também queriam participar da festa de despedida do derradeiro veículo elétrico sobre trilhos de Juiz de Fora. Na direção do bonde, como motorneiro, Pedro Ferreira não conseguia esconder a lágrima que teimava em molhar sua face. Ao seu lado, no banco dianteiro, Roberto Medeiros e Dormevilly fundiam sentimentos, sem qualquer preocupação com  indisfarçável tristeza que os embalava naquele momento histórico. (...) O progresso pedia passagem. A Rua Direita, com suas árvores do fruto jalão pelas calçadas, colorindo o chão sob sua copa, e também a roupa dos descuidados, com nódoas da cor violeta, tornara-se pequena para as moderníssimas e possantes máquinas que por ali trafegavam.                                                              
                                                                                                    (Carlos Roberto Pimenta)
 Traçado -   de trilhos lineares,
lembranças de tempos alados.
Estribos e infância.
Firmamento em movimento,
namorados e descobertas
. 
(Lucília de Almeida Neves)
      Era o Bonde do Jardim de Infância. Ele levava os alunos do pré-escolar, como se fala hoje. O bonde saía de São Mateus, andava pela cidade toda até chegar no Mariano Procópio. Era uma festa. Para a gente não cair no meio daquela bagunça toda, o bonde era fechado nos lados, por uma cerquinha de madeira.
                                                                                          (Maraliz de Castro Vieira Christo)